Cada vez mais dispositivos são criados (ou ao menos utilizados) para a veiculação do "Eu". Qualquer um já pode dizer em 140 caracteres o que está sentindo. Em mais ou menos 1000 caracteres já se pode resolver a questão que perturbava os nossos ancestrais há muitos séculos: "Quem é você?" Com exceção das sextapes que caem na rede contra a vontade de alguém, cada um diz o que quer e mostra o que quer no ciberespaço. É ali que o indivíduo decide quem quer ser, como quer ser visto e, nesse caso, tudo o possível.
O que mais me intriga é o fato de algo ter sido guardado a sete chaves por séculos e que agora esteja tão cercado de fetiches ao ponto de ser simulado, encenado, estetizado. A intimidade teria se tornado só mais uma peça da Société du Spectacle? Os afetos, a sexualidade, o corpo teriam realmente encontrado o seu espaço na esfera pública ou ainda estão minados por tabus maquiados com photoshop?
Se a intimidade mostrada dia após dia nos flickrs e facebooks da vida é só mais uma encenação, o que é as pessoas ainda guardam a sete chaves? Qual é o segredo que não é revelado nem no mais anônimo dos postscreets?
Nan Goldin
Carolina Stieler
Cia de Foto,